Dois Anos da ABJD: A história que queremos contar

01/06/2020

Dois Anos da ABJD: A história que queremos contar







A história costuma ser lida pela lente dos vencedores, mas eu agora só consigo ver no Brasil, perdedores. Quem contará e qual será a história vencedora para explicar o Brasil de agora?

A ruptura democrática patrocinada pelas elites econômica, política e jurídica brasileiras em 2014, e a sua cumplicidade frente à insensatez manifestada nos votos de expressiva maioria dos parlamentares, que na histórica sessão de 17 de abril de 2016, da Câmara dos Deputados, autorizou a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, já nos permitia antever um futuro nada promissor.

A falta de perspectivas futuras tornou-se presente quando os abusos e a ilegitimidade que marcaram a atuação dos chefes da operação Lava Jato em Curitiba, mostraram-se insuficientes para retirar do ex-Presidente Lula o protagonismo político que poderia levá-lo de volta à presidência do país. 

Amedrontados frente ao possível retorno de Lula, instituições e organizações que são a voz da elite nacional, apoiadas por organização profissionais de juristas e pela mídia, ofereceram a Moro, Dallagnol e sua turma um “cheque em branco” que lhes permitiram fragilizar o devido processo legal, restringir direitos, revogar garantias, praticar o lawfare e rasgar a Constituição.

Nem todos seguiram o canto da sereia golpista, nem todos aceitaram rasgar a Constituição, fragilizar a democracia e promover a destruição de milhares de vidas, de histórias, do país, mas para nossa tristeza, muitos juristas o fizeram.

Entre ações para garantir o estado de direito, atos em defesa da democracia e textos em diferentes idiomas denunciando o esfacelamento da democracia brasileira, movimentos de resistência foram surgindo. Entre estes, um grupo de juristas de todos os cantos do país, de diferentes e divergentes orientações políticas e distintos campos de atuação: advogados públicos e privados, professores universitários, servidores da justiça, promotores, magistrados e estudantes de direito, decidiu juntar esforços e fundar a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), que completou dois anos no dia 28 de maio. 

A ABJD nasceu com o propósito de resgatar a dignidade e o bom uso do direito, no âmbito doméstico e internacional. Nasceu com a preocupação de proteger a Constituição brasileira e torná-la efetiva a uma parcela crescente da sociedade. Nasceu como movimento de protesto ao golpe e resistência aos atos golpistas. Nasceu com a missão de defender e lutar pela imperfeita democracia brasileira. Esses são os nossos compromissos, os quais buscamos estender a outras categorias profissionais que, para nossa alegria, também já construíram suas próprias associações democráticas.

Qual direito e qual democracia poderiam surgir do golpe? Que país pode resultar de um acordo espúrio das elites para afastar, empobrecer e humilhar o povo? Que sociedade desponta quando se desconfia da parcialidade dos juízes e da independência da justiça? Os juristas brasileiros pela democracia optaram por lutar, resistir, promover e proteger a Constituição e a democracia brasileiras e o resultado dessas lutas será a história que vamos contar, e que queremos ver contada para a presente e as futuras gerações neste Brasil.

Parabéns ABJD!

*Claudia Maria Barbosa é doutora em direito, professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e membro-fundadora da ABJD.

Escolha a ABJD mais próxima de você

TO BA SE PE AL RN CE PI MA AP PA RR AM AC RO MT MS GO PR SC RS SP MG RJ ES DF PB