Senhores ministros, senhoras ministras
Vivemos tempos difíceis na nossa História republicana, no qual se naturalizam e se multiplicam graves ataques às instituições democráticas. As agressões proferidas contra membros dessa egrégia Corte sinalizam máximo perigo ao pacto democrático, já que ameaçam e desrespeitam o guardião da Constituição, amalgama de civilidade e de proteção da própria sociedade.
É com essa compreensão que as entidades do campo do Direito e que defendem os direitos humanos alertam para a importância do posicionamento dessa Suprema Corte para o restabelecimento da confiança na Justiça e no equilíbrio dos valores democráticos conectados ao sentido de participação popular.
O julgamento que ocorrerá do próximo dia 14 de abril do Habeas Corpus 193.726 vai além da questão processual de competência ou incompetência de determinado juízo. Sequer se limita a um único juiz ou réu. O que será definido a partir da próxima quarta-feira entrará para a História do país, legará ao Brasil uma mensagem para as futuras gerações sobre o papel do Direito e do Sistema de Justiça. Será de responsabilidade de cada integrante do colegiado desse Supremo Tribunal Federal demonstrar seu compromisso com os pilares de nossa democracia e com os princípios de nossa Constituição Federal de 1988.
As entidades que assinam esta Carta, que têm na defesa do Estado Democrático de Direito um princípio, entendem que é inerente ao processo penal a observação de direitos e garantias individuais, em especial o direito a ser julgado por um juiz ou tribunal isento e imparcial. Trata-se de direito subjetivo e inalienável, resguardado em qualquer sistema jurídico e reproduzido em declarações e convenções de Direitos Humanos.
Como tal, qualquer alteração nas decisões em debate nessa Corte que implique retrocesso ao reconhecimento de direitos e garantias representaria um golpe duro no processo de restabelecimento da confiança no Poder Judiciário.
A operação Lava Jato pode ser defendida em alguns aspectos, mas inegavelmente deixou um saldo extremamente lesivo mundo afora. Não por acaso, o jornal norte-americano The New York Times noticiou a operação como o “O maior escândalo judicial da história” e a avaliação negativa vem sendo repetida em todo o meio jurídico, dentro e fora do país.
O Supremo Tribunal Federal tem o papel fundamental de afirmar ao mundo que a Justiça no Brasil cumpre sua Constituição; que é possível sim fazer o necessário combate a todo tipo de corrupção dentro dos parâmetros legais, garantindo a toda e todo cidadão e cidadã ser julgado/a por autoridade competente e por um juiz imparcial. O que significa dizer, em última instância, que o Supremo Tribunal Federal não tergiversa ao sustentar a vedação constitucional a juízo ou tribunal de exceção.
Diante de tudo que vivenciamos, urge que as instituições demonstrem seu compromisso com os pilares de nossa democracia e com os princípios postos na Constituição Federal de 1988. É isso que a sociedade espera.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JURISTAS PELA DEMOCRACIA – ABJD
ASSOCIAÇÃO ADVOGADAS E ADVOGADOS PÚBLICOS PARA A DEMOCRACIA – APD
COLETIVO POR UM MINISTÉRIO PÚBLICO TRANSFORMADOR – TRANSFORMA MP