Criação do Observatório Justiça e Democracia é celebrada na Assembleia de Minas Gerais

27/06/2024

Criação do Observatório Justiça e Democracia é celebrada na Assembleia de Minas Gerais


Da Assembleia Legislativa de Minas Gerais*

O lançamento do Observatório Justiça e Democracia, criado pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), foi celebrado nesta quarta-feira (26/6/24) durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O Observatório tem a função de acompanhar o comportamento do Sistema de Justiça e de seus agentes para conscientizar a sociedade sobre a importância dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito e propor alternativas para democratizar o Judiciário, além de denunciar casos de violação de direitos.

Outro objetivo é a construção de um banco de dados qualificado para investigar a médio e longo prazo a Justiça brasileira. “Nosso objetivo é fazer uma luta conjunta, sistêmica, ao lado dos movimentos sociais”,  salientou a advogada e integrante da Executiva Nacional da ABJD e articuladora do Observatório Justiça e Democracia, Ecila Meneses.

Qualquer pessoa pode fazer denúncias ao Observatório através de uma plataforma virtual. Um grupo de juristas vai filtrar as informações, organizar os dados e buscar um encaminhamento para cada uma.

Autora do requerimento para a realização da audiência pública, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) afirmou que a luta pela democratização do Judiciário é essencial, ainda mais em um período de desafios como o ressurgimento do fascismo. “Talvez nunca tenha sido tão essencial essa luta. Essa é uma audiência pública importantíssima para Minas Gerais. A Comissão de Direitos Humanos é só um instrumento”, declarou a deputada.

A professora, advogada e integrante da coordenação da ABJD, Wânia de Almeida, explicou que a entidade é uma associação civil sem fins lucrativos e suprapartidária, criada em maio de 2018, como desdobramento de uma frente de juristas surgida dois anos antes para denunciar  a ilegalidade do impeachment da então presidenta Dilma Rousseff e defender o regime democrático. A organização tem caráter nacional e está em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal.

Composta por juristas com atuação em diferentes espaços, desde organismos do Estado até movimentos populares, conta com mais de 2 mil associados e se destaca na defesa da democracia e das garantias jurídicas asseguradas pela Constituição da República de 1988.

Já o coordenador do Núcleo Mineiro da Associação de Juízes pela Democracia, José Eduardo Chaves Júnior, afirmou que a  instituição tem a intenção de trabalhar principalmente quatro eixos de democratização do Judiciário. Um deles é aprimorar a representação de gênero e racial. Também reduzir o déficit de formação humanística e de defesa dos direitos humanos dos juízes brasileiros.

Outros dois eixos seriam aumentar a participação da sociedade no judiciário e reduzir o gerencialismo. “A participação da sociedade na Justiça é pífia. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é muito institucionalizado”, criticou. O defensor público Gabriel de Carvalho também apontou a necessidade de aperfeiçoamento e de uma maior representatividade da população no CNJ.


Participantes apontam instrumentalização conservadora do Judiciário

Representante do Coletivo Transforma MP, Elaine Nassif afirmou que é preciso combater a estratégia da extrema direita de utilizar ações judiciais como uma arma contra a democracia. Integrante do Núcleo da ABJD no Distrito Federal, Cleide Martins Silva também lembrou o perigo de o Judiciário se deixar usar contra a democracia, por meio de falsas acusações de corrupção.

Joceli Andrioli, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, denunciou a estratégia de movimentos conservadores para criminalizar líderes de lutas pelos direitos humanos, também instrumentalizando o Judiciário.

O professor da PUC Minas e advogado da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais - NGolo, Matheus Leite, disse que o Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública são cúmplices dos crimes cometidos contra a população mais vulnerável. Ele citou o exemplo das várias decisões do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que negaram as consultas prévias às comunidades atingidas por projetos de mineração. Muito aplaudida, a líder do Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango, Makota Cássia Kidoialê, reafirmou que a democracia ainda não existe para o povo negro.

Daniela Muradas Antunes, representante da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas e da Associação Americana de Juristas, solicitou que o Observatório não deixe de avaliar a atuação do Judiciário em relação ao quadro sistêmico de desproteção social dos trabalhadores.

A presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Cristina Fontes, afirmou que a dificuldade de acesso à Justiça pela população mais vulnerável é evidente até nas regras de vestimentas impostas para se permitir a entrada em fóruns.

Raimundo Aragão, do Conselho Federal da OAB, destacou o papel das instituições de defesa dos direitos humanos na educação e conscientização das gerações mais jovens sobre a importância da democracia.

A superintendente de Promoção, Proteção e Participação Social da Subsecretaria de Direitos Humanos, Mariana Bicalho, defendeu a capacitação de servidores e mesmo de juízes, a fim de reduzir a dificuldade de implantação de políticas de proteção aos direitos humanos em municípios do interior.

Matéria publicada dia 26 de junho, data de lançamento do Observatório Justiça e Democracia em Minas Gerais.

Criação do Observatório Justiça e Democracia é celebrada na Assembleia de Minas Gerais

Escolha a ABJD mais próxima de você

TO BA SE PE AL RN CE PI MA AP PA RR AM AC RO MT MS GO PR SC RS SP MG RJ ES DF PB